domingo, 7 de junho de 2009

Music Television For the Masses


Originalmente postado aqui


Embora o título sugira algo relacionado com a MTV, isso não é 100% verdade.
Mas já que citei a MTV, vou contar a minha história de paixão e sem exagero, gratidão com o canal 25 da Net, era 32 no UHF, lembram disso?

O final dos 80 e começo dos 90 era uma época estranha, Technotronic reiventava a dance music, New Kids on The Block eram adorados como deuses, Metallica era popular entre os mais rebeldes da escola, enfim... pensando bem é só mudar os nomes (Beyoncé, NX Zero e qual é mesmo a banda pesada/rebelde famosa desses dias? Paramore?) e o panorama é o mesmo em qualquer época.

Tinha 12 anos em outubro de 1990 (lançamento da MTV Brasil) e nunca tinha ido à Disney mas queria muito ir, não pelos parques, porque tinha e ainda tenho medo de praticamente todas as atrações disponíveis, mas queria ir pra conhecer essa tal de MTV (lembro que uma amiga ao voltar da Disney no ano anterior, havia trazido 20 fitas VHS de clipes gravados na MTV do hotel).

Para os mais jovens daquela época, a empolgação que vinha junto com a ideia de se ter um canal de clipes pode ser comparada ao frisson causado pelo Ipod quando foi lançado.



Não tive MTV no primeiro ano , era preciso comprar uma antena UHF ou sintonizar pelo videocassete, aparelho esse que meu pai se orgulhava de ter sido pioneiro em comprar já em 86, mas que pelo mesmo motivo não funcionava mais.

Em um dia qualquer de 1991, meu pai conseguiu um tempo pra comprar e instalar a tal antena e enfim FEZ-SE A LUZ.

Meu primeiro vídeo na MTV de casa (já assistia na casa dos amigos com pais menos preguiçosos) foi "Suck My Kiss" do Red Hot Chilli Peppers. Vídeo esse que é filmado em tons marrons e que fez meu pai reclamar que a antena havia estragado a TV. Sim, A TV, uma TV por casa, isso já existiu. Hoje eu moro sozinho e tenho 2, vai entender.

Fazíamos reuniões em casa para ver clipes, assistir ao Disk MTV era sagrado, no caminho da escola pra casa apostávamos se o Bryan Adams ainda estaria em primeiro ou se seria superado pelo Extreme. Listas e rankings musicais são sempre inúteis mas eu sempre AMEI listas. E no fim de semana você ainda acompanhava o Top Ten USA e o Top Ten Europa (o primeiro dominado por aqueles R'n'Bs melosos e sem graça e o segundo com o que até hoje domina as casas noturnas mais populares: música eletrônica de má qualidade, na época chamava Eurodance, hoje chama-se ________ - você completa, não quero arrumar confusão com ninguém).

No meio dos clipes mais populares sempre aparecia um meio estranho à primeira vista, um povo com um cabelo diferente, uma música com sons estranhos e andamento diferente. Lembro que um dos primeiros clipes que me deixaram com uma cara de interrogação foi o de Caravan do Inspiral Carpets. Era tão diferente de tudo o que a gente ouvia que eu queria mostrar pra todo mundo e um dia ao mostrar pra minha irmã ela responde nada empolgada: "André, isso parece Roberto Carlos!".


INSPIRAL CARPETS
cortes de cabelo geniais


Hoje concordo com ela, os teclados do Roberto Carlos eram super modernos nos 60's e os dos Carpets eram super retrô pros 90's (já ouviu algum papo parecido assim antes?).

Depois veio a fase Dance Music com Crystal Waters, MC Hammer e claro o Technotronic (claro que havia os mais obscuros e consequentemente mais legais, mas um dia eu volto a isso).
Da fase Dance pro Metal, tinha aquele programa do Gastão de 3a à noite , "Fúria Metal", que era o papo de toda aula de educação física na 4a de manhã.
Música que a gente nem gostava tanto, mas por ser tão estranha E bizarra E diferente E RUIM, claro que os teens menos adequados tinham que adorar. Nomes GENIAIS como Pungent Stench, Carcass e um dos meus favoritos EVER (o nome, não a banda) Cannibal Corpse. Era o ápice da rebeldia pra quem tinha 14 anos. Adolescentes são idiotas, não? (eu incluído).


Capa do PUNGENT STENCH
exemplo de bom gosto


Nessa mesma época 93/94 começou a passar uns clipes meio diferentes demais, com caras afeminados demais, com melodias doces demais. Era o nascimento do que viria a ser o (idiotamente) chamado britpop. Minhas melhores amigas amavam Suede, mas como eu que ouvia o mais sujo METAL do universo, poderia cair no charme das reboladas de Brett Anderson? Ou ainda cantar junto com os Lemonheads na absurdamente perfeita Into Your Arms (americanos, eu sei, mas apareceram na mesma época)? Dançar a besteira feliz que é "Girls And Boys" do Blur?Era demais pra mim. Apenas mais um conflito adolescente.


BRETT ANDERSON
exemplo de masculinidade


Até que em um domingo à noite no fim de 1993 (eu tinha pegado catapora e fiquei 40 dias em casa, por isso consigo ser tão preciso), a luz se fez de novo, agora BEM mais intensa. Como não ia acordar cedo pra ir pra escola, fiquei vendo MTV até tarde, quando de repente, um cara estranho começa a apresentar um programa mais estranho ainda com uma abertura feia pra diabo (acho que era aquela do caranguejo).

Fábio Massari era o cara e Lado B era o programa, e justo naquele dia estreava Cannonball das Breeders. Todos já devem ter sentido esse clique ao ouvir uma música em especial, seja ela qual for, de que ritmo for, mas aquela música que ao ouvir , você sabe que sua vida mudou pra sempre. Essa foi a minha. Aquele baixo na introdução é o equivalente musical à cena da dança de Uma Thurman e John Travolta em Pulp Fiction. Há alguns anos não consigo mais ouvir essa música e ter a mesma sensação, mas a memória daquela primeira vez está lá.


BREEDERS
formação do Last Splash


Fiquei mais uns dias de molho em casa e logo que pude sair fui pro centro perto do Teatro Municipal onde tinha uma loja grande de disco, Museu do Disco se bem me lembro. Nada de achar Breeders. Nessa época o conceito de lançamento nacional, CD importado, single, EP, passava bem longe da minha jovem cabecinha.

Por acaso, voltando pra casa, entrei numa Galeria onde tinha umas lojas de CDs de rap principalmente. Já tava lá mesmo, decidi arriscar. O atendente rapper me olhou meio torto e me perguntou: "Esse negócio aí é rock? Se for, sobe a escada e vire a esquerda." Segui a recomendação e achei meu primeiro paraíso na Terra, a Velvet CDs. Lá, não só tinha o CD das Breeders mas também acabei descobrindo que a "moça" que cantava nessas Breeders aí, tinha tocado em outra banda antes, uns tais de Pixies, que vieram a ser uma das bandas da minha vida e de MUITA gente também.


PIXIES
ainda bem que a música fala mais alto que as roupas


Ciclo completo, você via os clipes na MTV domingo à noite, ia na Velvet e na Bizarre na segunda, ouvia e comprava ou encomendava se ainda não tivesse chegado, e pronto, era tão simples. Assim eu achava.


ANDRÉ FIORI da VELVET CDs


Nesses mesmos anos, existiam por aqui revistas muito legais: a Bizz, mesmo em declínio mas ainda relevante; a General, revista em que li uma matéria escrita pelo Camilo Rocha ou pelo Fernando Naporano sobre a New Wave of the New Wave (e você que achava que o rótulo New Rave era piada!) falando sobre o Elastica, Echobelly e Tiny Monroe na mesma matéria; e a Dynamite, que rola até hoje, começava a sair da temática 100% metal e abrindo portas pra Sonic Youth, Mudhoney e Oasis.

Quem viu Alta Fidelidade sabe do que eu vou falar agora, tardes e tardes numa loja de disco, conversando sobre os novos lançamentos, se o Damon do Blur tava mesmo namorando com a Justine do Elastica, nos questionávamos se o My Bloody Valentine ia lançar CD novo (2010, agora?) e nos estapeávamos quando chegava apenas UM single daquela banda nova capa da NME. Mesmo com um inglês sofrível, já tínhamos evoluído pras revistas internacionais: VOX, NME, Melody Maker, Smash Hits, Spin e etc.

André, Adriana e Gabriela na Velvet. Elaine, Farinha, Wendel e Urso na Bizarre. Cada dia passado lá era um aprendizado. E como diz o clichê: "O sábio é aquele que sabe que nada sabe." Eu e meus amigos praticamente morávamos lá.


CARLOS FARINHA da BIZARRE
aqui com Raquel Uendi


Esse texto pode soar saudosista, mas não é na verdade. Morro de inveja dos teens de hoje que ouvem falar de uma banda, digitam no HypeMachine e pegam os mp3s já disponíveis, entram no YouTube e mesmo que a banda não tenha clipe ainda, já dá pra ver uns vídeos ao vivo, o disco vaza sempre um mês antes no mínimo e já baixam ele em Torrent ou num file sharer como o Rapidshare e pronto, é tão simples. A simplicidade dos 00's. Um pouco diferente da dos 90's, mas naquela época, aquilo que hoje é tão simples e fácil era inconcebível.

Por motivos impossíveis de citar e enumerar aqui, a MTV perdeu importância e relevância no meio desse percurso todo. Triste, mas não adianta ficar chorando, agora é assim. Muitas mudanças ocorreram na tal TV musical nesses anos todos, afinal é uma empresa com fins lucrativos e pra tal precisa agradar quem está disposto a assistir programas que desafiam sua tolerância intelectual como o do Marcos Mion (o momento exato que o senso de humor do adolescente médio da minha geração mudou para a demência que eles presumem que os teens de hoje representam realmente está fora da minha compreensão).


O programa é de quinta porque tem esse nome, ou...


Quando a TV a cabo se tornou mais acessível e a maioria de nós conseguiu ter canais como Multishow e MTV Latino e agora os mais recentes MTV Hits e VH-1, um leque maior de opções se abriu. Além da bendita Internet e tudo mais. Não trabalho em TV, não sei da viabilidade ou não de uma TV ser lucrativa apenas com videoclipes e muito menos se elas (as TVs de música) vão continuar a existir. Pra que esperar o seu clipe favorito passar na MTV se você pode montar seu playlist no Youtube?

Não podemos dizer que a programação atual da MTV é ruim por completo. Penélope é genial nas tiradas com os teens no MTV NA RUA, tenho que confessar que acho o FURO MTV muito engraçado (questão de gosto) e claro o TOP TOP não pode ficar de fora, qualquer lista é válida.

Mas é inegável a importância e relevância que uma boa TV de MÚSICA ainda tem nos dias de hoje.

Quem nunca se cansou de todos os MP3s que tem levanta a mão? Às vezes é bom receber a informação ao invés de ir atrás dela, papel pessimamente desempenhado pelas rádios (aqui em SP pelo menos, com eventuais espamos como a Brasil 2000 e a Oi FM) e que foi quase anulado pelas TVs. OK, Beyoncé é legal também, mas precisa passar o clipe novo dela N FATORIAL vezes no mesmo dia? E se não for ela, vai ser a Britney, a Amy, a Kate Perry ou quem quer que esteja em voga naquela semana.


GLASVEGAS
clipe de Geraldine com chamada na programação
(um tanto atrasado mas tá lá)


Não dá pra dar a chance pros teens de hoje descobrir Glasvegas, White Lies, Yeah Yeah Yeahs, ou qualquer outra banda decente, num programa às 3 da tarde? A MTV lança clipes com um ano de atraso quase, eu sei que é impossível acompanhar a velocidade da Internet, mas pelo amor de Deus, "Gronlandic Edit" do Of Montreal é de 2006 e tá passando agora aqui.

MAS, o objetivo real desse texto GIGANTE é mostrar que ainda há esperança. Vou citar dois casos que aconteceram comigo no último mês: Brazilian Girls e Ebony Bones.

Numa dessas famosas madrugadas de insônia que você fica vendo MTV e lembra que tem tanta música boa nesse mundo e ela é transmitida pro Brasil inteiro às 4 da manhã, horário esse que se você não for um desempregado ou trabalhar num horário alternativo, você DEVERIA estar dormindo. Justo, música boa sempre foi pras elites mesmo. Nesse caso pros desempregados e pros garis. Bem, numa dessas madrugadas vi o clipe de Good Time do Brazilian Girls. PERFEIÇÃO POP.


BRAZILIAN GIRLS em NYC


Uma linha de baixo simples e empolgante, um vocal falado e com letra nonsense, backings que grudam na cabeça (eles parecem mais ingleses que americanos na verdade), ou seja, tudo o que uma grande música pop tem que ter. Lembro de ter ouvido falar desses Brazilian Girls antes (sim, esses, pois são dois caras e uma garota), mas não sei porque sempre os liguei ao electroclash ou funk e fiquei com preguiça de ir atrás. "Good Time" nem é nova, é de um disco do ano passado chamado New York City que por sinal é de onde eles vêm.

A segunda "descoberta" recente proporcionada pela TV foi a Ebony Bones num programa chamado SOUND no Multishow que passa às 10 da manhã de 6a feira, horário onde realmente a maioria de nós está em casa vendo TV. Pelo que eu vi, ela era uma atriz de uma novela na Inglaterra até que se cansou (as novelas lá duram décadas, estilo Malhação, elenco diferente mas a mesma novela) e resolveu fazer música.


EBONY BONES
senso de estilo apurado


AVISO IMPORTANTE: Se você se irrita com o som de cowbells ou qualquer outra percussão aguda, pare por aqui. Minha favorita, We Know All About You, é praticamente caótica e o título de Don't Fart With My Heart é no mínimo curioso. Ela abusa do conceito "música de festa" e das roupas coloridas e meio sem noção. Não acho que vá fazer muito sucesso, mas eu gostei bastante. Postei as 4 músicas que achei dela no HypeMachine e você pode baixar as 4 aqui.

De nada.

Um comentário:

  1. E como eu me lembro desses dias... Quando a MTV saiu, e como vc falou meu amor por Suede :) e tbm das noites que vc ficava la minha casa granvando maldito video clips da MTV ate as 3 da manha! Essa lenga lenga durou mais de um ano ate vc comprar a maldita da antena... Kkkkkk sou insomaniaca ate hj por causa disso!
    E essas 12 fitas de videos gravada na florida? Quem fez isso? LOL x

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