Tenho uma amiga, Maíra Mee, que é extremamente dedicada à música. Como eu, viajou para o exterior apenas para ver shows e conhecer bandas.
Em janeiro de 98 em Londres, naqueles encontros inexplicáveis do destino, nos cruzamos na frente do Astoria na entrada de um show do Super Furry Animals. Eu já voltando pro Brasil e ela recém chegada.
Conversamos sobre as bandas que estávamos ouvindo, e entre outras dicas, eu recomendei o “Barafundle” do Gorky’s Zygotic Mynci. Um dos melhores discos de 97 e que ouço até hoje.
Ainda naquele ano, ao conversar com o guitarrista do Gorky’s no fim de um show, ela descobre que o único site da banda existente naquela época tinha sido feito por um brasileiro que morava no Rio de Janeiro. Um tal de Rodrigo.
Claro que ela entrou em contato com ele e o apelidou de Rodrigo Gorky, por motivos óbvios. E eu acabei sendo o André Gorky por ter apresentado a ela sua nova banda favorita. Mas meu apelido não pegou, e não é agora que eu vou usá-lo(embora eu e o Rodrigo sejamos “rechonchudamente” parecidos).
Quando conheci o Rodrigo ao vivo, ele era mais um nerd musical como nós e falava apaixonadamente sobre as bandas que gostava . Nunca fomos próximos, porém sempre mantivemos contato.
Por isso, eu posso falar abertamente: eu NUNCA gostei de Bonde do Rolê.
Não vejo graça em funk carioca, não gosto de palavrões em letra de música e nunca entendi como o Rodrigo poderia fazer aquele tipo de música.
Porém, ano passado, ele me convidou pra ver um show deles no Coachella e eu fiquei chocado com o que eu vi. O set deles coincidia com o do MGMT (abril de 2008 – começo do hype deles) e a tenda do Bonde estava tão ou mais cheia que a concorrente. A energia que a banda passa é quase palpável, os gringos não param de dançar um minuto, e eles CANTAM também (soltah ow thrangow meegna gentchi).
Naquele momento então, eu entendi que eles não fazem o tão execrado funk carioca, eles fazem música POP e são uma FEEL-GOOD band ao vivo. Você quer estar ali, você vibra o show inteiro porque você vê o tesão com que eles cantam. Dos vários shows que vi naquele fim de semana, talvez uns dois ou três tenham tido essa mesma vibe.
Rodrigo que é tão calado e na dele, entrou na onda das então recém-contratadas vocalistas (era a primeira tour com o novo line-up), que estavam orgulhosas de estar ali e isso faz toda a diferença. Pedro agradece a animação da platéia e você vê que ele está radiante pela experiência.
Hoje em dia me pego clicando conscientemente na pasta do With Lasers e ouvindo os hits e mais, já me peguei dançando animadamente ao som de um remix de Marina Gasolina no Vegas. Quem diria, hein?
Você pode não gostar de Bonde do Rolê, nem ter vontade de escuta-los, mas saiba que apesar de todas as críticas que eles recebem, eles já fizeram história e eu prefiro que os gringos imaginem que nós somos animados e de bem com a vida do que uma banda de indie-shoegazers losers, ou ainda um medalhão qualquer da MPB ou da Bossa Nova.
Com o segundo disco deles saindo no segundo semestre, com produção de Edu K, Fredi da Comunidade Nin-Jitsu e João Brasil, é só torcer pra que a feel-good vibe deles ainda dure por anos.
E nesta sexta 19/06 no Studio SP, você vai ter a rara chance de vê-los ao vivo e sentir isso que eu contei aí.
Com vocês, Bonde do Rolê:
Head - Como é o processo de criação do Bonde?
Bonde do Rolê - Depende de qual parte, normalmente ou se tem uma música ou uma letra.
Geralmente as letras vêm de coisas que achamos engraçadas ou divertidas pra cantarmos e as músicas vêm de dentro do nosso coração (minha coleção de discos), da nossa alma (talento nato pra pilantragem), com o fator sorte embutido. O processo está sendo mais coletivo hoje em dia porque antigamente cada um fazia algo.
Shoulders - Quais seus artistas favoritos e como eles influenciam na música de vocês?
Bonde do Rolê – São muitos, mas muita coisa que gosto e admiro no fim não tem nada a ver com o Bonde. Por exemplo, é difícil eu conseguir traçar semelhanças entre a gente e os Beach Boys.
Mas já pro Bonde, temos algumas pessoas/bandas que nos espelhamos bastante e que ajudaram a gente a fazer o que fazemos. Como o Jason Forrest com os cut & paste dele transformando samples cafonas em músicas novas incríveis. Daft Punk fazendo uma música inteira com um samplezinho só. Comunidade Nin-Jitsu pela irreverência desde o começo da banda e os Beastie Boys pelo mesmo motivo
Knees - Como vocês divulgam o trabalho da banda?
Bonde do Rolê - No começo era tudo na base da amizade, manda mp3 pra um amigo aqui, outro ali. Depois decidimos por no myspace, e foi assim. As pessoas foram aparecendo. Acho que no fundo, nunca fomos muito bons com divulgação não. Foi muito mais uma coisa de fazer a coisa certa, na hora certa e no lugar mais improvável possível (Curitiba).
O management que todos imaginam que uma banda com selo tem, funciona muito mais para lidar com os pepinos que você não quer lidar. Hoje em dia, papel de manager tá caindo, é tudo bem mais fácil de se fazer. Se você tiver um advogado de confiança e uma paciência de ouro, você não precisa de manager.
A nossa divulgação oficial, na verdade, quem faz é a Domino e a Mad Decent. E a gente, no Twitter, no Orkut.e no Myspace.
Toes - Qual a melhor e a pior parte de se ter uma banda?
Bonde do Rolê – A melhor parte é a chance de viajar o mundo e fazer dinheiro com o que gosta.
A pior parte são as viagens - digo, enfrentar voos com escalas de 26 horas pra Austrália, vans que demoram 10 horas pra chegar.
Bonus Round - Hot Chip ou Elliot Smith?
Bonde do Rolê - Hot Chip. Nunca fui muito com o Elliot Smith não. Pra dizer a verdade, são poucas coisas que eu gosto do Elliot Smith. E vamos combinar que o Arthur Russell é bem mais bafo.
HAHAHAHA!! Eu fui apresentado ao Gorky numa Parada Gay. Em 2001. A Maira Mee nos apresentou, mas eu achei que era Gorky por causa do Máximo Gorky, do teatro. Na época ele era do Belleatec, que era muuuuito fofo! Tinha aquela cançãozinha Tetrapak, uma delícia.
ResponderExcluirPUTZZZZZ!!!!
ResponderExcluirEsqueci de falar do Belleatec, que teve faixa tocada no programa do JOHN PEEL.
Meu... uma coisa muito louca aconteceu... O Jay Kay(!!!!!) me parou mna rua, ele dentro de um taxi perguntando seu eu queria cuidar do cahorro dele... o taxi meio que foi qdo o sinal abriu, nem deu tempo de ver o cachorro... e por isso que eu adoro morar em Londres!
ResponderExcluir