sábado, 26 de setembro de 2009

Head, Shoulders, Knees and Toes # 11 - MULTIPLEX


Coube Tudo no Ipod?


Contei logo num dos primeiros posts desse blog sobre a Galeria de discos que eu frequentava e onde comecei a conhecer um pouco mais sobre música.

Na Galeria onde ficava a Bizarre e que ainda abriga a Velvet, havia um grupo de pessoas que frequentava assiduamente a procura de novidades.

Foi assim que conheci Leandro Cunha.

Fã de Manic Street Preachers, cara de poucos amigos e sempre acompanhado do seu melhor amigo Cláudio (hoje dono do Astronete).

Enquanto eu me deslumbrava com o surgimento do Oasis, do Elastica e com o lançamento do "Parklife" do Blur, ele falava sobre David Bowie, do "Holy Bible" dos Manics e de várias outras coisas que eu só fui gostar bem mais tarde.

Muitos discos ouvidos e comprados depois, ele decide montar uma banda. Teve algumas na verdade, até chegar ao Multiplex.



Multiplex 2009: Leandro Cunha e Bruno Palazzo

Foto: Max Superstar



Sua voz peculiar não é de fácil digestão e muitos odeiam a banda de cara por isso.

Pra variar, vou contar uma historinha antes de dar minha opinião sobre eles.

Li uma entrevista do Jarvis Cocker do Pulp uma vez onde ele dizia algo mais ou menos assim: "Descubra sua característica pessoal mais estranha e faça dela seu ponto forte."

Pra quem não lembra da cara do Jarvis, ele é uma figura bem alta, desengonçado, magro ao extremo e aparentemente gay. Olha ele aí embaixo:


Ícone dos 90's



O que ele fez? Só vestia roupas que o deixavam ainda mais magro e encarnou um personagem com gestos e trejeitos que confudiam a todos sobre sua sexualidade (ele não é gay, é casado com a editora da Vogue francesa ou algo parecido).

Pronto, criou-se uma personalidade única. Tá, David Bowie já tinha feito isso, os caras do Glam Rock também e a lista é continua e é longa.

Nas suas devidas proporções, vejo isso no Leandro. Ele assume seu look pouco comum com orgulho, não tem medo de escrever letras praticamente auto-biográficas e mostrar pra todos na música do Multiplex e mais, ele canta do jeito que ELE quer. Admiro muito ele por isso.

Quantas pessoas você conhece que tem a coragem de fazer as coisas do jeito que quer? No meu caso, bem poucas. Será que sou cercado de losers? Hahah.



Gravação Radiola

Foto: Max Superstar


Também estranhei o som da banda quando ouvi a primeira vez.
Mas as músicas são tão bem construídas, várias referências de toda a vasta bagagem musical dele (devo dizer que Leandro foi um dos amigos que mais me apresentou bandas antes desconhecidas pra mim) e o melhor de tudo, são canções POP de verdade.

Ouça "Particularidades" e "Compulsão" - eu insisto que sou EU o personagem principal dessa música.

Se a letra não grudar na sua cabeça depois da primeira audição, visite um otorrino imediatamente.

Estão na estrada há alguns anos e a formação atual é de um duo (Bruno Palazzo completa o line-up) e acabaram de lançar sua primeira faixa em inglês - "Born Again".

Quando juntei todas as músicas da banda (no site da Trama Virtual eles compilaram 10 delas num álbum digital chamado The Singles) percebi que eles têm na mão nada mais que 10 hits de verdade.



Baixe a Discografia



Num mundo imaginário, caso tívessemos singles de verdade lançados por aqui, eu me arrisco a dizer que TODAS, absolutamente TODAS poderiam ser A-sides.

Que banda brasileira que pode dizer isso? Me conta aí, porque eu não conheço.


Acabaram de participar do "10 Horas no Estúdio" do Programa Radiola e saíram de lá com a inédita "Aqueles Que Resistem".

Vários músicos convidados participam atualmente dos shows e das gravações, como você pode conferir no vídeo abaixo:



Aqueles Que Resistem 10 Horas



Acompanhe a entrevista com Leandro Cunha e descubra mais sobre o Multiplex:



Head - Como é o processo de criação do Multiplex?

Multiplex - Muito complexo, hahahaha. A banda não se chama Multiplex à toa; Filmes, tristezas da vida, drogas, amigos e todos os discos que a gente gosta são parte intrínseca do processo. Claro que toda essa complexidade acaba resultando em algo simples, como as nossas músicas são. "Marc Bolan was a very simple person with complex influences" - Simon Napier Bell. Muitas vezes eu tenho pesadelos e escrevo alguma coisa. As vezes elas começam como jams, e aí eu ponho música e letra em cima, ou o contrário... Não existe uma regra específica, e ultimamente estamos colaborando com outros artistas nesse processo, com músicos convidados ao vivo. Também tem o lance da nossa iconografia, que é uma coisa na qual eu penso muito.


Shoulders
- Quais seus artistas favoritos e como eles influenciam na música de vocês?

Multiplex - São muitas as bandas boas e que produzem boas músicas, mas acredito que as que mais influenciam são aquelas que transmitem todo um lance, uma atmosfera, elas praticamente te dão um mundo no qual viver. Tem a ver com escapismo, querer sair desse planeta cruel em que vivemos, imaginar um futuro com pessoas mais livres, mais felizes. Nesse sentido, posso dizer que o trabalho de gente como David Bowie, T.Rex, Secos & Molhados, Soft Cell, Iggy Pop, Damned, Suede, Velvet Underground, Roxy Music, Rick James, Ronaldo Resedá, David Sylvian, Kraftwerk e Walker Brothers me inspira muito. Também gosto de praticamente qualquer disco que tenha um negão ou uma negona na capa. Das coisas mais novas, muita coisa também. Tudo que apela pro exótico. Gosto de shock rock também, Alien Sex Fiend, Siouxsie and the Banshees, Marilyn Manson, Cramps. Tudo que incomodar o prefeito, as senhoras católicas, os crentes. Não posso esquecer de citar os Manic Street Preachers também, em discos como Holy Bible, por exemplo.


Knees - Como vocês divulgam o trabalho da banda?

Multiplex - Durante muito tempo usamos o fotolog, e isso foi bom pra gente. Depois começamos com o Orkut, mas aí eu já comecei a sentir uma preguiça profunda, todos esses roqueiros bonzinhos de Orkut me enojam. Acho que rock não é uma coisa pra gente tão boazinha e solícita. Agora priorizamos o Myspace, que é muito melhor. Quando tem show ou alguma coisa importante mandamos um mail coletivo pra nossa lista. Não é muita coisa, mas é melhor do que fazer nada. Ah, se eu fosse modelo! Ia me esquemar pra tocar no Fashion Week.


Toes - Qual a melhor e a pior parte de se ter uma banda?

Multiplex - Todas as partes são as melhores. Tocar ao vivo é bem legal. Fazer videoclipes é a coisa mais próxima do constrangedor, sabe?


Bonus Round - Hot Chip ou Elliot Smith?

Multiplex - Hot Chip, sem dúvida, não conheço bem o trabalho do Elliot Smith, mas me parece levemente miserabilista... Eu já tenho tendências, não posso facilitar. Sempre ouvi muito Scott Walker e Nico, e percebo que isso não me fez uma pessoa mais feliz.

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